---

Dentre todos os ruídos da natureza, a voz humana sempre mereceu de minha parte uma aten‡Æo especial, especialmente a voz dos poetas rapsodos. Os inúmeros "Era uma vez" ou "contam os antigos" testemunham a sobrevivência de um todo orgânico capaz de seduzir e de transportar plateias para outras dimensäes. Pitiús, café torrado, mata molhada, enxofre, madeira úmida, fuma‡a e fumo sÆo alguns ingredientes fazendo parte das memórias olfativas dos contadores de "causos" e de assombra‡äes das ilhas de Ananindeua. Esse mundo enigmático, complexo e, para alguns, "irracional", perpassa para o mundo estético, desafiando seus artífices a traduzir, pelas signagens, suas paisagens olfativas. Alargo o meu olhar para as minhas experiências com os historicamente "silenciados", atrelando meu fazer às topografias de vários níveis de abstra‡Æo, inclusive ao terreno das ilhas de Ananindeua com cuidado, receios, paciência e, acima de tudo, sujei‡Æo às discussäes, às explica‡äes, aos questionamentos e às contesta‡äes fazendo parte de cosmologias abertas à decifra‡Æo.

---

Paraense das "bordas". Doutorando em Comunica‡Æo e Semiótica/Pontifícia Universidade Católica de SÆo Paulo. Realiza pesquisas dialogantes com os Estudos Culturais e com as Oralidades em busca de outros "corpos". Professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e coordenador de Programa de ExtensÆo junto à Comunidade Indígena Kyikatêjê.

---