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Entrar numa livraria, e deixar que o olhar (alheio ao constrangimento da lista de aquisi‡äes obrigatórias silenciada dentro da algibeira) sofra a atrac‡Æo do visível pode resultar na descoberta de uma insuspeita novidade. E ao atentar nos escaparates de banda desenhada, pequenas surpresas se reservam. Pequenas quanto o mercado editorial português, no entanto, capazes de nos obrigar a um atento olhar crítico. O Diário de K., de Filipe Abranches, retém-nos num desses olhares. Primeiro, porque K. é o nome de uma das personagens do universo ficcional de Franz Kafka, e a possibilidade de uma adapta‡Æo deste autor seria aliciante, somando-se às já existentes adapta‡äes em banda desenhada de autores estrangeiros como Georges Bataille, Thomas Mann e William Burroughs. Segundo, porque a banda desenhada nacional tem vindo a evoluir dentro de uma linha intelectualista, inspirando-se cada vez mais em argumentos literários, obrigando a questionar o rótulo "cultura de massas" que lhe é frequentemente atribuído. Abre-se o álbum, espera-se que o olhar confirme a intui‡Æo anterior, mas, na badana, lê-se: "adapta‡Æo de A Morte do Palha‡o de Raul BrandÆo". A sensa‡Æo de uma agradável surpresa.

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Dias, Alexandra Maria Louren‡o
A autora possui Licenciatura em Línguas e Literaturas Portuguesas pela Univ. Nova de Lisboa, Mestrado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea pela Univ. do Porto e Doutoramento em Literaturas e Culturas Românicas pela Univ. do Porto, 2013.

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