---

Nosso interesse em Lev Tolstói está claro: trata-se de um dos maiores escritores da literatura universal. Nosso interesse na morte, no entanto, é obscuro, embora corajoso, alguns diriam, se formos nos ater à reputa‡Æo por ela adquirida na sociedade contemporânea: a pior possível. O pavor incitado pela morte é das mais terríveis mazelas que aflige o homem nos dias de hoje. Segundo Philippe Ariès, este teria se instalado em definitivo no século XIX, levando grandes pensadores a abdicar da razÆo e entregar-se à irracionalidade do medo. Estatelado no cerne dessa era, Tolstói, em sua vida e obra, deixa transparecer o conflito que travaria sob o jugo do ocaso, propondo a questÆo que é esmiu‡ada ao longo desse livro: Há algum sentido na vida cuja ocorrência inevitável da morte nÆo destrua? Por isso, atrelar o escritor à morte é, para todos os que tenham um mínimo de intimidade com sua trajetória, perfeitamente coerente, pois estÆo cientes de que esse caminho, ao contrário do que possa parecer, só poderá redundar na vida e esta é a nossa hipótese principal , já que, vagando pelos interstícios da dana‡Æo, Tolstói tentaria desbravar o segredo do bem-viver. Para ele, morte é vida.

---

Luiza Almeida graduou-se em jornalismo na UFRJ e, em 2012, tornou-se mestre pela USP em Literatura e Cultura Russa. No mesmo ano, estudou por nove meses em Minsk, Belarus. Atualmente, após uma expedi‡Æo no Cáucaso, é doutoranda na USP - com extensÆo na University of Manchester-, onde investiga o papel da música na obra de Tolstói.

---