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A narrativa objetiva o exercício de cria‡Æo em torno do dia 08 de mar‡o de 1914, dito como triunfal, pelo poeta Fernando Pessoa, nos momentos que antecedem a escrita do poema O Guardador de Rebanhos, de autoria do heterônimo Alberto Caeiro. A partir de versos do poema intenta-se uma constru‡Æo ficcional fincada em um estado onírico que é canal para os fluxos de cria‡Æo, prepara‡Æo para o que vai eclodir: um poema potente que emerge do mistério da heteronímia, renúncia do poeta à sua voz para dar lugar ao OUTRO que dele difere, porém dele surge, nele mora. Há no espa‡o ficcional a ideia de inscrever a data de 08 de mar‡o de 1914 como um terceiro marco na biografia do poeta que negou ter biografia, apenas nascimento e morte como limites entre os quais a vida correu como obra, como fazer poesia. A data que dá carne ao poema é fic‡Æo dentro da fic‡Æo, contraponto de guerra em meio à luz da poesia que nasce como tarefa heróica de enfrentamento diante dos perigos do mundo. A narrativa pretende chegar mais perto de uma verdade que só através da fic‡Æo pode ser tocada: sentir o fluxo de um dia no processo de cria‡Æo do poeta, na ousadia de recriar o momento da escrita do poema, em 1914.

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Vera Lucia Pian Ferreira, advogada, mestre em História Antiga e Medieval pela UFRJ, mestre em Literatura Portuguesa pela UERJ e membro efetivo, como psicanalista, da SOBEPI. Atualmente, além do exercício da atividade de psicanalista, direciona seu trabalho para a leitura dos Clássicos e prepara projeto para iniciar doutorado em Literatura Comparada.

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