---

Os Timbiras, um poema de sofrimento, do amor que nÆo sobrevive sem a guerra, do homem americano para sempre perdido, uma reflexÆo daquilo que o Brasil realmente é: um filho de Portugal. Do outro lado, a Eneida, poema que celebra a paz por meio da guerra, porque só ela é capaz de assegurar o controlo sobre a turba insatisfeita; é o poema de Tróia ressuscitada no Lácio, embora o herói fundador nÆo tenha chegado a ver cumprir a profecia dos deuses, e por isso tenha preferido perecer junto com os outros Troianos, nas muralhas da cidade. As semelhan‡as entre os poemas sÆo muitas: Eneias é um homem sem pátria à procura de asilo no Lácio; Itajuba e os Timbiras irÆo numa busca debalde por asilo na terra dos seus ancestrais, no vale imponente e hostil do Amazonas (esse rio, o exemplo excelso da nacionalidade brasileira, mesti‡o no nome, conservou no seu curso o indígena "Solimäes", substituindo "Pará" pelo termo europeu, surgido de uma lenda sobretudo europeia). A América infeliz e arruinada é a imagem de Tróia arrasada; Roma surge das cinzas de Tróia e o Brasil das cinzas do homem Americano.

---

Weberson Fernandes Grizoste é Professor Adjunto de Latim e Estudos Clássicos da Universidade do Estado do Amazonas. Doutor em Poética e Hermenêutica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Membro do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos desde 2008, do Núcleo de Investiga‡Æo da Cultura e Educa‡Æo do Baixo-Amazonas, e do Centro de Estudos JoÆo Calvino.

---